sexta-feira, julho 17, 2009

Dezessete
Gosto de observar o vai e vem de gente enquanto espero o ônibus para ir trabalhar. Arrisco dizer que não existe rotina mais ordeira no meu bairro, ou quem sabe na cidade.

Eu normalmente chego ao ponto uns dez minutos antes do sujo e barulhento coletivo que me leva à repartição. Nesse meio tempo, passam por mim, como em uma parada militar, alguns personagens de que tanto vê-los fico com vontade de cumprimentar.

Lá perto fica o Salesiano, logo a maioria deles são estudantes do colégio. O cortejo começa, quase sempre, com uma menina gorducha, de uns 12 anos e seus um metro e meio de altura. A despeito da silhueta renascentista, ela anda a passos largos, apressada, porém elegantemente, com um olhar que mira o horizonte.

Em seguida vêm dois prováveis irmãos, que eu apelidei de O Gordo e o Magro. O Magro parece ser o mais novo e vem sempre na frente, transpirando preguiça. O Gordo, que na verdade é musculoso, parece ser mais seguro de si e às vezes surge acompanhado por alguma beldade adolescente.

Outra figura que nunca falta é a Boneca de Mármore. Aluna do Salesiano, deve ter uns 15, 16 anos. É loira, magra, com rosto clássico. Tem um olhar completamente indiferente, como se o caminho ordinário para a escola fosse uma passarela da Qualquer Coisa Fashion Week. O vermelho nas unhas das suas mãos, atestado de maturidade, alivia minha consciência quando devaneio sobre ela. Há outros personagens, que não vou citar agora. Não são nem mais nem menos importantes, e podem vir a ser assunto de outra crônica.

Às vezes o cortejo falha, como nesta manhã ensolarada de inverno. De longe eu via o Roqueiro chegando. Chamo-o assim porque o estudante está sempre com um allstar rabiscado e jeans bem velho. Na direção contrária passaram duas meninas da mesma escola, quase correndo. O roqueiro ensaiou o cumprimento a uma delas, foi agarrado pelo braço e obrigado a acompanhar as duas. Relutou um pouco mas deu meia volta e disparou no mesmo ritmo das colegas.

Eram sete da manhã. Na certa o Roqueiro iria se atrasar para a aula. Poderia até perder uma prova, quem sabe. Mas qual a importância disso, se naquele momento ele estava de braços dados a duas lindas meninas, felizes por estarem protegidas por ele.

Minhas vistas acompanharam o trio por quase um minuto, até meu ônibus aparecer. Fiquei o dia inteiro com saudades dos meus 17 anos, do Redley pichado, do jeans rasgado e das surpresas às sete da manhã.



11:17 PM

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