quarta-feira, abril 25, 2007

Keyla
“Mas que moleza, eihn!”, exclamou a loira, ao me ver guardando meio desajeitado uma anilha de dez quilos. Era assim que ela me cumprimentava, uma alternativa divertida à caretice do bom-dia e ao mesmo tempo uma provocação à minha virilidade. Embora eu estivesse acostumado com o jeito marrento da moça, estranhei a presença da instrutora no horário da manhã, o preferido das cinquentonas e dos anti-sociais da academia como eu.

Resolvi meu impasse com a anilha e pude erguer o corpo para retribuir o cumprimento. Só então constatei como ela estava perto de mim. Um palmo de distância, ou menos. A instrutora, Keyla é o nome dela, me fitava com seu rosto misterioso que um dia desvendarei. É uma expressão grave sem ser solene, dura e lasciva em medidas iguais. Seus olhos verdes miraram os meus e desceram em direção ao meu tórax, subindo e encontrando seus colegas castanhos novamente.

Fiquei ali, a olhar aqueles olhos e com vontade de enlaçá-la pela cintura, comprimir meu corpo contra o dela e beijá-la sem medo. Decifrar, só com olhares, os enigmas guardados no seu rosto banal, sem me importar se eles não forem agradáveis como os poucos segundos face a face com ela.

Cumprimentei-a com um “oi” tão competente quanto meu trato com a anilha de dez e a vi partir para a esteira ergométrica. “Decifro-te”, disse para mim mesmo, antes de iniciar a série de abdominais.
8:25 PM

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