quinta-feira, julho 26, 2007
Estrangeiro
Uma colega do trabalho me perguntou quando seria o jogo da seleção brasileira feminina de futebol. Eu respondi que não sabia. Ela retrucou e disse que eu, por ser jornalista, teria a obrigação de saber a programação dos jogos pan-americanos. “Mas eu não sou brasileiro”, disparei meio sem pensar.
A discussão terminou com sorrisos das duas partes. Mas a frase que a encerrou, ao contrário do que minha interlocutora achou, não foi dita da boca pra fora. Às vezes, e não tão às vezes assim, sinto-me como um estrangeiro. É uma sensação de estranhamento, como se eu não fizesse parte do universo ao meu redor. Sabe a sensação de estar em uma festa reservada, com uns dez, doze convidados, e não conhecer ninguém. De tão absurda, nem é preciso ter passado pela situação para sentir o desconforto. Eu olho para um lado, pra outro, e não vejo a porta da sala. A única alternativa é esperar o anfitrião anunciar o fim da festa para ir embora.
A sensação vem como um arrepio, algumas vezes só me belisca e vai embora. Em outras, estaciona feito visita chata, em estadia que dura no máximo alguns minutos, até ser expulsa pelas incumbências cotidianas.
Não se assustem, meus três leitores e meio. Não vou matar um árabe e culpar o sol, como o anti-herói Meursault. Muito menos abraçar o niilismo, desprender-me de tudo e fazer de um barril minha moradia, como o filósofo cínico Diógenes de Sínope. Não tenho coragem para tanto.
Quem sabe daqui uns anos eu encontre meu passaporte, ou a porta de saída na festa estranha. Tem gente que faz análise, outros enchem a cara. Não sei se encontram a resposta. Eu prefiro a dúvida, a companhia sombria do estranhamento. Porque pelo menos tenho assunto para exercitar meu português ruim.
Uma colega do trabalho me perguntou quando seria o jogo da seleção brasileira feminina de futebol. Eu respondi que não sabia. Ela retrucou e disse que eu, por ser jornalista, teria a obrigação de saber a programação dos jogos pan-americanos. “Mas eu não sou brasileiro”, disparei meio sem pensar.
A discussão terminou com sorrisos das duas partes. Mas a frase que a encerrou, ao contrário do que minha interlocutora achou, não foi dita da boca pra fora. Às vezes, e não tão às vezes assim, sinto-me como um estrangeiro. É uma sensação de estranhamento, como se eu não fizesse parte do universo ao meu redor. Sabe a sensação de estar em uma festa reservada, com uns dez, doze convidados, e não conhecer ninguém. De tão absurda, nem é preciso ter passado pela situação para sentir o desconforto. Eu olho para um lado, pra outro, e não vejo a porta da sala. A única alternativa é esperar o anfitrião anunciar o fim da festa para ir embora.
A sensação vem como um arrepio, algumas vezes só me belisca e vai embora. Em outras, estaciona feito visita chata, em estadia que dura no máximo alguns minutos, até ser expulsa pelas incumbências cotidianas.
Não se assustem, meus três leitores e meio. Não vou matar um árabe e culpar o sol, como o anti-herói Meursault. Muito menos abraçar o niilismo, desprender-me de tudo e fazer de um barril minha moradia, como o filósofo cínico Diógenes de Sínope. Não tenho coragem para tanto.
Quem sabe daqui uns anos eu encontre meu passaporte, ou a porta de saída na festa estranha. Tem gente que faz análise, outros enchem a cara. Não sei se encontram a resposta. Eu prefiro a dúvida, a companhia sombria do estranhamento. Porque pelo menos tenho assunto para exercitar meu português ruim.
10:19 PM