quarta-feira, agosto 22, 2007

Rock antigo
É engraçado como as opiniões mudam. Eu costumava criticar uns amigos que apreciavam rock antigo. Achava estúpido um bando de jovens idolatrar grupos da época dos seus pais, enquanto a modernidade fervilhava na forma de microfonias, poucos acordes e temáticas depressivas. Eu idolatrava o novo. O desconhecido. O efêmero. Minha sanha iconoclasta via o passado como uma página a ser virada e nunca mais relida e o agora como única salvação possível. Para mim, música antiga era coisa de espíritos velhos, mofados e com articulações e neurônios emperrados.

O tempo passou, e me mostrou que admirar o dia de ontem faz parte da ordem natural das coisas. Devia estar escrito nos livros de ciência: os humanos nascem, crescem, se reproduzem, morrem e buscam no passado a felicidade que não têm mais. Claro que não é nessa ordem.

Cheguei a essa conclusão ao ouvir na tarde de hoje Superunknown, disco do Soundgarden lançado em 1994. Conheci o disco na época em que foi lançado, por intermédio de um colega de escola que comprou o LP, duplo, se não me engano.

Naqueles bons tempos, no qual matávamos aulas no pátio à beira da piscina só para apreciar a beleza nórdica de uma professora de educação física, disco bom passava de mão em mão e gerava crias na forma de fitas Basf. Eu fui um dos que levou o LP e cumpriu o ritual da catequese roqueira de gravar fitinha, escrever à caneta o nome das músicas e depois quebrar a lingüeta, para evitar o risco de gravação acidental.

Tudo isso veio como um flashback, assim que as guitarras pesadas de “Let me drown” começaram a soar. Inventei de querer saber o porquê de estar ouvindo uma banda dos tempos do segundo grau com um mundo de novidades a um clique de distância, prontas para atualizar meus gostos e configurar meu perfil, deixando-me apto a ser um cara benquisto na confraria dos cults e antenados.

Quando analisei os últimos arquivos mp3 baixados, tomei um susto. Só coisa velha. Um disco do Happy Mondays de 1987; Darklands, do Jesus and Mary Chain, do mesmo ano; The Downward Spiral, do Nine Inch Nails, de 1994. Por que tanta velharia?

Fácil, pensei eu, fundamentado pelas 15 horinhas de Psicologia que tive em uma graduação e meia na universidade. Ouvir música do passado é a única forma possível de manter-se jovem, conectado a um tempo que não volta mais. Superunknown, e outros discos, são como máquinas do tempo capazes de me levar para os melhores momentos da adolescência, quando eu usava um Redley rabiscado, jeans rasgado e conversava a tarde inteira sobre Nirvana, Metallica, RATM, Ramones...

Bem, a teoria não explica o gosto dos meus amigos por músicas da época em que eles eram embriões, por isso é melhor ser refutada. Teoriazinha mixuruca. Durou um parágrafo, pouco mais que as bandinhas que aparecem e somem hoje em dia.

Eureca! Está explicado. Eu ouvi Superunknown hoje à tarde porque o disco é bom. Não é descartável como as farofas lançadas hoje em dia. Só por isso. Procurar explicação metafísica é pura falta do que fazer.
12:00 AM

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