quarta-feira, agosto 18, 2004

PRETENSÃO, OU O SENTIMENTO QUE DESTRUIU MINHA ALMA
por João do Papel


O sentimento que destruiu minha alma. Devo repetir isto. Um menino, engraçado, que um dia acordou cedo para ter um sonho de amor e compreensão, hoje é candidato à humilhação das noites improdutivas, engrenadas em nicotina e cafeína.

Em verdade, hoje, daria mais prazer escrever sobre nada (a arte do vagabundo). O importante seria escrever bem. "Está aí o segredo da coisa!", grita alguém na segunda fileira. (Deixem espaço para a auto-indulgência --acho que encontrei um pensamento que vale alguma coisa.) Penetrarei a narrativa de minha própria tragédia e descobrirei que o texto não corre porque me obrigo a escrever bem.

(Devo ter muita coragem para dizer que é assim. Convidar alguém a ler um texto meu; não oferecer nada, idéia ou ponto de vista, ou neologismos. Nada)

Não tenho talento, nunca fui escritor. Na verdade, escrevo muito mal: você percebe que é um estilo difícil, doído. Repito erros como um carteiro doido.

Foi a pretensão que me trouxe até aqui. Fez com que caísse em mim a carapuça de escritor; embora esta idéia tenha permanecido estanque dentro de minha cabeça. Nada a ver com a realidade. A pretensão cega me fez acreditar que tenho um texto legal.

Posso ter um bom coração, mas não tenho facilidade, desenvoltura. Um mal escritor, e basta de palavras.
4:42 PM

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