quarta-feira, março 05, 2008
Não era só mais um Silva
O lugar onde trabalho é rico em personagens interessantes. Basta um pequeno exagero dramático nas características de cada um deles e eu teria um elenco prontinho para uma série de TV ou um longa-metragem, que seria uma mistura improvável de M.A.S.H com The Office.
Um dessas figuras é o Sr. Silva. Comandante de uma unidade de elite da polícia, é o estereótipo do militar patriota. Conserva o cabelo grisalho bem curto na nuca e com um pequeno topete em cima, tal qual o penteado do exército alemão. Por falar nisso, não esconde de ninguém que mantém a foto de Erwin Rommel como papel de parede no computador. Orgulhoso pela farda que veste e desconfiado dos civis que o cercam, é o tipo de pessoa que morreria por uma causa.
Enfezado com o que o incomoda e inimigo declarado da imprensa, não é de se estranhar que minha equipe de trabalho tenha enfrentado dificuldades com ele.
Fim de ano. Uma colega do trabalho confeccionou cartões de natal para distribuir aos vários comandantes, uma espécie de agradecimento à ajuda por eles prestada.
A mim coube a ingrata missão de entregar o cartão ao Sr. Silva. Fui à sala onde ele, todos os dias após o almoço, assiste ao noticiário esportivo. Dei bom dia e entreguei o cartão, esperando que no mínimo ele rasgasse-o na minha frente. Para meu espanto, ele se levantou do sofá com entusiasmo de menino e agradeceu pela lembrança, apertando a minha mão com vigor marcial.
Dias depois, encontrei Sr. Silva no mesmo local e no mesmo horário. Ciente de que ele é um estudioso da 2ª Guerra, fiz uma pergunta sobre o conflito. Não para puxar conversa, mas para extinguir minha dúvida mesmo. Isso rendeu um bate papo de quase uma hora.
A prosa foi boa, e apesar de autoridade, ele mostrou que não queria apenas uma platéia para aplaudir seus conhecimentos. Em vez disso, ouvia as minhas opiniões, embora eu não tivesse questionado em momento algum seu ponto de vista anti-americano. Para encerrar a palestra, pedi que indicasse alguns livros sobre o assunto.
Algumas horas depois, um soldado entrava na minha sala e deixava dois livros sobre a 2ª Guerra, um sobre as aventuras de um piloto da Luftwaffe; outro, sobre os Kamikazes.
Minha colega de trabalho olhou assustada, para depois se alegrar com o que finalmente seria a assinatura de um tratado de paz entre Sr. Silva e os assessores de imprensa da polícia.
No dia seguinte, para desgosto da minha parceira, ele se recusava a dar informações sobre uma operação policial. Pobres meninas. Não sabem que entre os homens a amizade pode coexistir com as diferentes convicções.
O lugar onde trabalho é rico em personagens interessantes. Basta um pequeno exagero dramático nas características de cada um deles e eu teria um elenco prontinho para uma série de TV ou um longa-metragem, que seria uma mistura improvável de M.A.S.H com The Office.
Um dessas figuras é o Sr. Silva. Comandante de uma unidade de elite da polícia, é o estereótipo do militar patriota. Conserva o cabelo grisalho bem curto na nuca e com um pequeno topete em cima, tal qual o penteado do exército alemão. Por falar nisso, não esconde de ninguém que mantém a foto de Erwin Rommel como papel de parede no computador. Orgulhoso pela farda que veste e desconfiado dos civis que o cercam, é o tipo de pessoa que morreria por uma causa.
Enfezado com o que o incomoda e inimigo declarado da imprensa, não é de se estranhar que minha equipe de trabalho tenha enfrentado dificuldades com ele.
Fim de ano. Uma colega do trabalho confeccionou cartões de natal para distribuir aos vários comandantes, uma espécie de agradecimento à ajuda por eles prestada.
A mim coube a ingrata missão de entregar o cartão ao Sr. Silva. Fui à sala onde ele, todos os dias após o almoço, assiste ao noticiário esportivo. Dei bom dia e entreguei o cartão, esperando que no mínimo ele rasgasse-o na minha frente. Para meu espanto, ele se levantou do sofá com entusiasmo de menino e agradeceu pela lembrança, apertando a minha mão com vigor marcial.
Dias depois, encontrei Sr. Silva no mesmo local e no mesmo horário. Ciente de que ele é um estudioso da 2ª Guerra, fiz uma pergunta sobre o conflito. Não para puxar conversa, mas para extinguir minha dúvida mesmo. Isso rendeu um bate papo de quase uma hora.
A prosa foi boa, e apesar de autoridade, ele mostrou que não queria apenas uma platéia para aplaudir seus conhecimentos. Em vez disso, ouvia as minhas opiniões, embora eu não tivesse questionado em momento algum seu ponto de vista anti-americano. Para encerrar a palestra, pedi que indicasse alguns livros sobre o assunto.
Algumas horas depois, um soldado entrava na minha sala e deixava dois livros sobre a 2ª Guerra, um sobre as aventuras de um piloto da Luftwaffe; outro, sobre os Kamikazes.
Minha colega de trabalho olhou assustada, para depois se alegrar com o que finalmente seria a assinatura de um tratado de paz entre Sr. Silva e os assessores de imprensa da polícia.
No dia seguinte, para desgosto da minha parceira, ele se recusava a dar informações sobre uma operação policial. Pobres meninas. Não sabem que entre os homens a amizade pode coexistir com as diferentes convicções.
10:55 AM