terça-feira, março 18, 2008

São Paulo
Dias atrás fui a São Paulo, passar um final de semana na companhia de amigos. Saí de lá com vontade de voltar logo, e quem sabe estabelecer moradia definitiva naquela cidade frenética, brutal e ainda assim sedutora.

A cidade deixou de recordação meia dúzia de imagens em minha mente. Na certa o tempo e outras experiências se encarregarão de apagar essas imagens da minha cabeça, com exceção de uma, desde já integrante do time das memórias que levarei para o leito de morte.

Não foi nada extraordinário, adianto. Aliás, foi um fato bastante vulgar, e não fosse meu sentimentalismo de ocasião a história nem ganharia essas linhas.

Vamos lá. Eu havia acabado de almoçar em um shopping center com meu anfitrião. Era mais ou menos meio-dia, e o lugar estava abarrotado de gente apressada. Nós também estávamos apressados e andávamos rápidos e truculentos como yuppies, porém felizes e não tão bem vestidos.

Ao passar próximo a um restaurante, fui alvejado pelo olhar delicado de uma funcionária. A moça deve ter entre 20 e 23 anos, é baixinha, branca e com um corpo bonito sem ser escultural. Ela estava com uma pasta preta, que presumo ser um cardápio, comprimida contra os seios.

Seu olhar veio acompanhado de um discreto sorriso. O impacto do seu golpe foi tão forte que fui obrigado a retribuir o aceno dos lábios. O lance todo não durou mais que cinco segundos, mas me deixou fora do chão por um bocado de tempo. Fiquei tonto. Por um momento os relógios pararam e não vi ninguém ao meu lado. Estava como o pugilista nocauteado, bambeando no ringue antes de cair para a derrota certeira.

Mas eu não estava ferido, nem derrotado. Pelo contrário. O olhar da mocinha me encheu de vivacidade. Deixou-me alegre, certo de que a vida vale a pena, mesmo que as coisas às vezes não aconteçam do jeito que a gente quer.
11:32 PM

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