domingo, agosto 29, 2004

AMO MULHERES QUE FUMAM
por João do Papel

Está nos cinemas, e talvez esteja no coração de gente como eu, o novo filme de Woody Allen chamado "Igual a todas as coisas". A personagem principal (e musa da geração) é defendida por Cristina Ricci, que fez a colegial triste e de peitos grandes em "A Família Adams".

Ela transformou-se em gênio do blazé. É daquelas que podem relaxar e interpretar apenas um personagem: ela mesma. Samuel L. Jackson disse isso. Algo como "sou mais legal que todos estes quilos de papel que os roteiritas escrevem". No filme, Ricci é louquinha e encanada, mas bastante curiosa. Seduz porque vive numa hora mais do que as mulheres ordinárias em algumas encarnações.

Uma das linhas menos engraçadas é quando o ator principal, um jovem escritor que pede conselhos ao persongem de Woody Allen, confessa que pela primeira vez se apaixona por uma fumante.

Azar o dele. Porque, venho pensando, é a coisa mais linda. Cristina, pele branca, tons de rosa -- bochechas, pescoço, ventre --, segura entre os dedos, e mantém os olhos muito abertos enquanto faz isso, um cigarro. Muita sensualidade, mas não como antigamente, quando as baforadas eram receitadas contra ansiedade e o tabagismo feminino era largamente tolerado. O cigarro que ela segura é a máquina de matar, o flagelo, o monstro de nicotina. Assim como os Valiums e Prozacs que ela mantém no banheiro. Ela é jovem, e está se matando. Mas não é "dark"; na verdade, passa longe disto. Usa roupas vaporosas, alegres, como um vestido florido, ou uma camiseta básica e calcinha de algodão (só isso!).

Mais tarde, na rua, reparei em uma menina que passava, uma jovem de pouco mais de quatorze anos, branca como o leite, e de bochecha rosada, enfim, saudável como um bebê. Ela fumava. Existe perversão nisso, eu sei, mas fiquei excitado com aquela visão. Uma garotinha inalando fumaça preta. A auto-depreciação pública, mas dessa maneira, leve e tolerável, é o peep-show mais bonito do mundo.

6:52 PM

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