domingo, maio 15, 2005
QUARENTAS
por Adalberto Silva
Tenho grande admiração pelos homens de quarenta anos. Calma, leitor apressado, não traí os meus princípios de homem com H, apenas refiro-me a respeito, reverência e um pouco de inveja também. Se antes eu desejava seguir a lição punk de viver pouco e intensamente (até nisso falhei), hoje me exercito diariamente para chegar à meia idade em excelente forma física.
Às vezes tenho vontade de dormir e só acordar com quarenta e poucos anos de idade, cheio de vivência, seguro dos meus valores, sem alimentar ilusões inalcançáveis. Posso estar enganado, talvez absolutamente enganado, mas é assim que me imagino daqui a vinte e tantos anos. Imagino que é a partir dessa idade que as ilusões vão para o espaço, ou para a puta-que-pariu mesmo. Se não ganhei uma fortuna com meu trabalho, não é agora que vou ganhar, se ainda não comi alguma gata capa da Playboy, não será agora que comerei.
Não escrevo pensando em tipos como Hemingway, um monstro aos 40 que já era um monstrinho promissor aos 20, ou Camus, ganhador do prêmio Nobel aos 44. Tampouco penso no executivo que entrou numa corporação aos 25 e quinze anos depois tem chances concretas de alcançar um posto de direção na empresa. Penso em caras comuns, de pouco dinheiro, pouco talento, pouca beleza.
Os homens de quarenta conseguem transmitir segurança até nas horas em que falam asneiras. Parecem durões mesmo quando não passam de meninos medrosos, inseguros, apaixonados. As rugas em seus rostos são como os talhos feitos nas faces de certos aborígines, nos rituais de iniciação à vida adulta. Impõem respeito. Ignore as obrigações com o sentido da história e imagine o Rick Blaine de Casablanca interpretado por galã jovenzinho. Não dá. O personagem perderia o vigor dramático exalado pelo Humphrey Bogart de 43 anos.
Pode ser que eu esteja equivocado e que as linhas acima não passem de uma grande estupidez, obra de um cara na aurora de seus twenties escrevendo sobre o que ainda não conhece. Pode ser que o texto provoque gargalhadas sarcásticas em leitores quarentões. Não me importo muito com isso. Sei do risco que corro.
por Adalberto Silva
Tenho grande admiração pelos homens de quarenta anos. Calma, leitor apressado, não traí os meus princípios de homem com H, apenas refiro-me a respeito, reverência e um pouco de inveja também. Se antes eu desejava seguir a lição punk de viver pouco e intensamente (até nisso falhei), hoje me exercito diariamente para chegar à meia idade em excelente forma física.
Às vezes tenho vontade de dormir e só acordar com quarenta e poucos anos de idade, cheio de vivência, seguro dos meus valores, sem alimentar ilusões inalcançáveis. Posso estar enganado, talvez absolutamente enganado, mas é assim que me imagino daqui a vinte e tantos anos. Imagino que é a partir dessa idade que as ilusões vão para o espaço, ou para a puta-que-pariu mesmo. Se não ganhei uma fortuna com meu trabalho, não é agora que vou ganhar, se ainda não comi alguma gata capa da Playboy, não será agora que comerei.
Não escrevo pensando em tipos como Hemingway, um monstro aos 40 que já era um monstrinho promissor aos 20, ou Camus, ganhador do prêmio Nobel aos 44. Tampouco penso no executivo que entrou numa corporação aos 25 e quinze anos depois tem chances concretas de alcançar um posto de direção na empresa. Penso em caras comuns, de pouco dinheiro, pouco talento, pouca beleza.
Os homens de quarenta conseguem transmitir segurança até nas horas em que falam asneiras. Parecem durões mesmo quando não passam de meninos medrosos, inseguros, apaixonados. As rugas em seus rostos são como os talhos feitos nas faces de certos aborígines, nos rituais de iniciação à vida adulta. Impõem respeito. Ignore as obrigações com o sentido da história e imagine o Rick Blaine de Casablanca interpretado por galã jovenzinho. Não dá. O personagem perderia o vigor dramático exalado pelo Humphrey Bogart de 43 anos.
Pode ser que eu esteja equivocado e que as linhas acima não passem de uma grande estupidez, obra de um cara na aurora de seus twenties escrevendo sobre o que ainda não conhece. Pode ser que o texto provoque gargalhadas sarcásticas em leitores quarentões. Não me importo muito com isso. Sei do risco que corro.
11:24 PM