segunda-feira, abril 26, 2004
VONTADE DE GLABRO
por Adalberto Silva
Adoro fazer a barba. Descobri isso de uns tempos pra cá. Verdade, leitor de face peluda. Sinto grande prazer neste ritual masculino, raro para mim, rapaz cheio de sangue botocudo nas veias e, por causa disso, imberbe. Não chego a ser totalmente imberbe, tenho uns pêlos no rosto, negros e finos, discretos contra a cútis parda mas explícitos o suficiente para me atrapalhar numa entrevista de emprego.
Arranco-os a cada quinze dias, ou mais, ou muito mais. Antes eu usava sabonete e o aparelho descartável mais barato do mercado. Há mais ou menos um ano aderi ao creme de barbear. Foi aí que tomei gosto pela coisa: o cheiro do cosmético avon misturado à sensação da lâmina fazendo tchum, tcham e tcham, tcham, tcham, tcham!!!, como no velho comercial da TV. Nessas horas sinto-me um legítimo galã (das antigas!), um Burt Lancaster tropical.
Agora uso até um barbeador mais caro, mas ainda chinfrim, com fita lubrificante verde-piscina e haste emborrachada. O creme, esse já está quase acabando. Não mudarei de marca.
Um dia, quando estiver rico, comprarei o conjunto que vi em uma revista, composto por um aparelho de aço e pincel com pêlo de texugo (ou outro desses bichinhos em risco de extinção). Custa uns 500 contos.
Então ficarei besta, e posarei de galã de filmes em preto e branco mesmo depois do último resquício de creme de barbear sumir pelo ralo da pia.
por Adalberto Silva
Adoro fazer a barba. Descobri isso de uns tempos pra cá. Verdade, leitor de face peluda. Sinto grande prazer neste ritual masculino, raro para mim, rapaz cheio de sangue botocudo nas veias e, por causa disso, imberbe. Não chego a ser totalmente imberbe, tenho uns pêlos no rosto, negros e finos, discretos contra a cútis parda mas explícitos o suficiente para me atrapalhar numa entrevista de emprego.
Arranco-os a cada quinze dias, ou mais, ou muito mais. Antes eu usava sabonete e o aparelho descartável mais barato do mercado. Há mais ou menos um ano aderi ao creme de barbear. Foi aí que tomei gosto pela coisa: o cheiro do cosmético avon misturado à sensação da lâmina fazendo tchum, tcham e tcham, tcham, tcham, tcham!!!, como no velho comercial da TV. Nessas horas sinto-me um legítimo galã (das antigas!), um Burt Lancaster tropical.
Agora uso até um barbeador mais caro, mas ainda chinfrim, com fita lubrificante verde-piscina e haste emborrachada. O creme, esse já está quase acabando. Não mudarei de marca.
Um dia, quando estiver rico, comprarei o conjunto que vi em uma revista, composto por um aparelho de aço e pincel com pêlo de texugo (ou outro desses bichinhos em risco de extinção). Custa uns 500 contos.
Então ficarei besta, e posarei de galã de filmes em preto e branco mesmo depois do último resquício de creme de barbear sumir pelo ralo da pia.
11:27 PM