segunda-feira, abril 12, 2004
VERGONHA
por Adalberto Silva
O piloto de jato perambula pela livraria do aeroporto. Quer um exemplar do Pequeno Príncipe mas está meio acanhado, com vergonha de pedir o livro desonrado pelas malditas misses. Como se a vendedora solícita fosse capaz de adivinhar que aquele livro é mesmo para o trintão de bigodes, e não presente para um dos seus dois filhos.
Ele se lembra da facilidade ao comprar o DVD do filme que o fez querer voar, a história de um piloto perdido no deserto e um menininho que dizia ser príncipe. Filme com Gene Wilder no papel da raposa e deslumbrantes cenas de desenho animado misturadas a atores reais. Comprou pela internet, sem ter que encarar vendedores ou dar explicações inexatas.
Chega a ser engraçado como este homem feito, acostumado a comandar um avião gigantesco com algumas dezenas de vidas em suas mãos, treme ao tentar comprar o livro de cabeceira. Mas ele precisa compra-lo agora. Não pode fazer isso mais tarde, impessoalmente, pela web. Quer o livro neste instante, a edição clássica, de capa branca, com as famosas aquarelas de Exupéry. Está angustiado por ainda não ter esse livro em casa. Sente-se um traidor, um ingrato para com seu herói, o piloto escritor desaparecido em pleno vôo.
Respira fundo, toma coragem e compra o livro. Antes de pagar, porém, pede à vendedora que embrulhe para presente.
por Adalberto Silva
O piloto de jato perambula pela livraria do aeroporto. Quer um exemplar do Pequeno Príncipe mas está meio acanhado, com vergonha de pedir o livro desonrado pelas malditas misses. Como se a vendedora solícita fosse capaz de adivinhar que aquele livro é mesmo para o trintão de bigodes, e não presente para um dos seus dois filhos.
Ele se lembra da facilidade ao comprar o DVD do filme que o fez querer voar, a história de um piloto perdido no deserto e um menininho que dizia ser príncipe. Filme com Gene Wilder no papel da raposa e deslumbrantes cenas de desenho animado misturadas a atores reais. Comprou pela internet, sem ter que encarar vendedores ou dar explicações inexatas.
Chega a ser engraçado como este homem feito, acostumado a comandar um avião gigantesco com algumas dezenas de vidas em suas mãos, treme ao tentar comprar o livro de cabeceira. Mas ele precisa compra-lo agora. Não pode fazer isso mais tarde, impessoalmente, pela web. Quer o livro neste instante, a edição clássica, de capa branca, com as famosas aquarelas de Exupéry. Está angustiado por ainda não ter esse livro em casa. Sente-se um traidor, um ingrato para com seu herói, o piloto escritor desaparecido em pleno vôo.
Respira fundo, toma coragem e compra o livro. Antes de pagar, porém, pede à vendedora que embrulhe para presente.
10:08 PM