segunda-feira, abril 05, 2004

SÁBIO SAMUELSON
por Adalberto Silva

Estava no meu estudo diário de Economia, lendo o primeiro capítulo da parte que aborda a macroeconomia, quando fui apresentado a Thomas Crapper, inventor do vaso sanitário com descarga. O nome do encanador inglês apareceu durante uma explanação sobre o aumento da eficiência econômica com a invenção de novos produtos e processos. “Por exemplo, quando Thomas Crapper inventou a sanita interior, milhões de pessoas deixaram de defrontar-se com neve no inverno para obrar nas suas próprias habitações e, no entanto, isto aumentou o conforto apesar de nunca ser refletido no produto interno bruto”, escreveu o senhor Samuelson, Prêmio Nobel, fundador do departamento de economia do MIT e autor do livro que estudo.

Não pude deixar de rir quando me deparei com os termos “sanita interior” e “obrar”, deliciosamente oferecidos pela tradução em português lusitano, legítimo. Ri e continuei a leitura de temas agradáveis porém complexos. Terminada a lição do dia, percebi o gol de letra marcado pelo velho Samuelson. Sábio acadêmico, ele soube a hora certa de soltar uma piada e encher o sangue dos leitores com hormônios da felicidade, deixando-os com pique para as lições seguintes.

Uma vez eu estava em uma palestra, oferecida por uma grande empresa fabricante de amortecedores de automóveis, e senti pena do orador, profissional da área de marketing. Ele subiu ao palco e tirou logo o paletó, na tentativa forçada de criar um ar informal, deu boa-noite e nada. Boa-noite de novo e quase nenhum feedback, para usar um termo dele. No decorrer da apresentação soltou umas cinco piadas sem qualquer efeito hilariante.

O sósia do Rubens Ewald Filho não demonstrou abalo. Deve estar acostumado com platéias geladas. Eu fiquei com tanta pena dele que por um momento cheguei a esquecer do coquetel que seria oferecido depois, aliás, o motivo da minha presença no evento.

Talvez um dia ele descubra que piada, para causar risadas coletivas, deve tratar daqueles temas universais: homossexualismo, adultério, preconceitos diversos, perversões sexuais, escatologia.

Sr. Samulson sabe disso. Falou de cocô no meio de uma lição de macroeconomia sem perder a autoridade no assunto que o consagrou. O velhinho domina as coisas. Quando eu crescer quero ser igual a ele.
3:12 PM
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