quarta-feira, abril 07, 2004
A MENINA DO ELEVADOR
por Adalberto Silva
Conheci a menina dos cabelos curtos em uma reunião de trabalho. Ela era a estagiária, eu, o jornalista free-lancer. O contato inicial foi pequeno, mas suficiente para que eu percebesse algo errado: aquelas roupas marrons e os sapatos caretas não combinavam com o penteado dela. Era o tipo de cabelo que – não sei bem há quanto tempo – me encanta. Cabelo cortado rente, uma preferência, admito, pouco comum.
Descemos juntos o elevador barulhento. Ela me disse, olhos no chão, que era seu primeiro dia no estágio. Estava cheia de expectativas profissionais. Preferi não tecer comentários sobre as nebulosidades do mercado.
Semanas depois nos encontramos novamente, na mesma situação. A menina tímida, de vestimentas quadradas, olhar acanhado e palavras cuidadosamente medidas, partiu para dar lugar a uma estagiária saidinha, que me chamou pelo diminutivo do meu nome. Aqueles cabelos diziam tudo.
Não me surpreendi. Sabia que ela, assim que se adaptasse ao novo emprego, iria trocar os modelitos pardos por roupas alegres, o sapato de bancária por um confortável tênis. Passaria a falar num tom de voz mais alto e com as gírias de sempre.
Ainda não sei por que, talvez nunca venha a saber, mas a verdade é que senti saudade da menina do elevador, tão frágil e esperançosa, por quem me apaixonei durante uns cinco minutos. Agora ela está cheia de autoconfiança, quem sabe já tenha até algumas decepções profissionais. Sinceramente, perdeu a graça.
por Adalberto Silva
Conheci a menina dos cabelos curtos em uma reunião de trabalho. Ela era a estagiária, eu, o jornalista free-lancer. O contato inicial foi pequeno, mas suficiente para que eu percebesse algo errado: aquelas roupas marrons e os sapatos caretas não combinavam com o penteado dela. Era o tipo de cabelo que – não sei bem há quanto tempo – me encanta. Cabelo cortado rente, uma preferência, admito, pouco comum.
Descemos juntos o elevador barulhento. Ela me disse, olhos no chão, que era seu primeiro dia no estágio. Estava cheia de expectativas profissionais. Preferi não tecer comentários sobre as nebulosidades do mercado.
Semanas depois nos encontramos novamente, na mesma situação. A menina tímida, de vestimentas quadradas, olhar acanhado e palavras cuidadosamente medidas, partiu para dar lugar a uma estagiária saidinha, que me chamou pelo diminutivo do meu nome. Aqueles cabelos diziam tudo.
Não me surpreendi. Sabia que ela, assim que se adaptasse ao novo emprego, iria trocar os modelitos pardos por roupas alegres, o sapato de bancária por um confortável tênis. Passaria a falar num tom de voz mais alto e com as gírias de sempre.
Ainda não sei por que, talvez nunca venha a saber, mas a verdade é que senti saudade da menina do elevador, tão frágil e esperançosa, por quem me apaixonei durante uns cinco minutos. Agora ela está cheia de autoconfiança, quem sabe já tenha até algumas decepções profissionais. Sinceramente, perdeu a graça.
10:59 PM