quarta-feira, abril 14, 2004

E-MAIL BANAL
por Adalberto Silva

Fala João,

Muito oportuno o e-mail que você me enviou, com o prólogo à edição brasileira do novo livro de Michael Moore. Li a mensagem todinha, a despeito da prosa ruim. Você bem sabe, o autor só se identifica lá pela segunda metade do texto. No início pensei que fosse mais um daqueles e-mails conspiratórios e esquerdistas que às vezes caem na minha caixa postal. Rapaz, eu iria ficar puto com você!

Michael Moore invejou Bush e disparou contra o próprio pé. Algumas fontes lúcidas afirmaram, com as devidas provas, que a invasão do Iraque favoreceu os democratas dos EUA. Como se sabe, a guerra gera recessão e aumenta o déficit público. Cada bomba que explode no deserto equivale, literalmente, a milhões de dólares incinerados. É dinheiro queimado, meu amigo. Os lucros com a exploração do petróleo iraquiano virão, mas ninguém sabe ao certo quando. Mais seguro seria investir nos poços pacíficos do Casaquistão e outros tãos da Ásia. George W. Bush não vai ser reeleito, ainda mais agora, com o clima de guerra civil a pairar no Iraque.

A ruína do Michael Moore está no seu próprio livro. Coitado, ele nem percebeu. Pena que pouca gente vai perceber. Há tempos eu não via tanta besteira escrita junta, tantas inverdades e simplificações grosseiras. Dizer que a família real portuguesa veio pra cá atraída pelas nossas belezas mostra que ele é um americano típico, ignorante da história do resto do mundo. O queridinho da américa liberal e progressista ignora que os portugueses só aportaram no Rio de Janeiro porque estavam com as bundas espetadas pelas baionetas das tropas de Napoleão.

João, ele diz que nosso país é lindo e maravilhoso. Poderíamos convidá-lo a morar em algum bairro da periferia da nossa cidade, encarar o Transcol lotado, o calor tropical sem ar condicionado, os pedintes nas ruas, o povo nada cordial, as enchentes e desabamentos, a tensão de viver num dos Estados mais violentos do país. Ele recusaria o nosso convite.

Michael Moore habita provavelmente uma casa confortável. Deve ter um belo carrão. E nunca foi vítima de seqüestro relâmpago (essa modalidade de crime é exclusividade nossa, vamos patenteá-la!!!!), nunca foi acordado por balas traçantes cortando os céus ou humilhado por policiais.

Cara, quando vejo o discurso dele me dá vontade de partir para os EUA e virar um stupid black man. Limpar privada e receber mais que um jornalista aqui no Brasil.

O diretor de “Tiros em Columbine” conclui o texto pedindo que nós, brasileiros, continuemos com o carnaval pelado. Espertalhão ele. Lucra uma grana cuspindo no prato em que come para depois gastar os dólares com turismo sexual nos trópicos.

João, valeu pelo e-mail, valeu mesmo. Um abraço.

11:55 PM
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