segunda-feira, março 22, 2004
SEGUNDA-FEIRA OU LATA DE MARGARINA
por João do Papel
Muitas pessoas estão se dizendo chateadas com o verão que termina agora. Como se houvesse a quem reclamar contra as chuvas, a falta de graça no carnaval, o excesso de trabalho, a falta de grana, etc. Não é fácil aceitar as coisas como elas são, e dá para fazer pouco contra isso.
Mas que idéia ruim; desabar um sinal digital de um servidor lá de longe para postar uma besteira como essa. Vocês não têm idéia de como é chato sentar à máquina para escrever uma crônica por dia sem ter assunto. Só uma alma encharcada de filosofia e moral pode falar sobre o nada -- pelo menos uma guerra no currículo já estaria bom. Agora arriamos eu e Adalberto este site, sem ter assunto, ainda por cima querendo fazer humor. Pedantes.
Nossa história mais famosa foi vivida só por mim. E ele escuta como uma criança vendo VHS da Disney; repete, repete, repete. A história é a seguinte: éramos, eu e Adalberto, administradores do laboratório de informática do curso de comunicação. E um estudante do ensino fundamental das redondezas usou de seu direito de ir e vir na faculdade pública e criou um projeto social para ele mesmo: Maxwell, um garoto de 10 anos com look andrógino-gordinho, usava os computadores para fazer de tudo, criar páginas na internet, remeter e-mails, e escrever seu famoso livro, que depois ficou constatado era plágio deslavado de Monteiro Lobato.
Um dia Maxwell estava no laboratório desde cedo, e, pela hora do almoço, um pouco antes, colocou sobre a mesa (desktop) uma lata de margarina (can of vegetal butter). Não havia margarina dentro, mas uma tonelada de arroz com feijão, coroada com um ovo frito, ovo estrelado. O cheiro que tomou conta de tudo era de tempero forte, e o agridoce do feijão tampado por quatro horas. Mais meia hora e azedava tudo. Foi um momento de muita sensibilidade. Maxwell puxou uma colher gigante, capaz de comer meio pote de vez, olhou para mim e perguntou se podia fazer a refeição ali. Respondi que sim e saí para chorar.
Mas acho que não consegui chorar.
por João do Papel
Muitas pessoas estão se dizendo chateadas com o verão que termina agora. Como se houvesse a quem reclamar contra as chuvas, a falta de graça no carnaval, o excesso de trabalho, a falta de grana, etc. Não é fácil aceitar as coisas como elas são, e dá para fazer pouco contra isso.
Mas que idéia ruim; desabar um sinal digital de um servidor lá de longe para postar uma besteira como essa. Vocês não têm idéia de como é chato sentar à máquina para escrever uma crônica por dia sem ter assunto. Só uma alma encharcada de filosofia e moral pode falar sobre o nada -- pelo menos uma guerra no currículo já estaria bom. Agora arriamos eu e Adalberto este site, sem ter assunto, ainda por cima querendo fazer humor. Pedantes.
Nossa história mais famosa foi vivida só por mim. E ele escuta como uma criança vendo VHS da Disney; repete, repete, repete. A história é a seguinte: éramos, eu e Adalberto, administradores do laboratório de informática do curso de comunicação. E um estudante do ensino fundamental das redondezas usou de seu direito de ir e vir na faculdade pública e criou um projeto social para ele mesmo: Maxwell, um garoto de 10 anos com look andrógino-gordinho, usava os computadores para fazer de tudo, criar páginas na internet, remeter e-mails, e escrever seu famoso livro, que depois ficou constatado era plágio deslavado de Monteiro Lobato.
Um dia Maxwell estava no laboratório desde cedo, e, pela hora do almoço, um pouco antes, colocou sobre a mesa (desktop) uma lata de margarina (can of vegetal butter). Não havia margarina dentro, mas uma tonelada de arroz com feijão, coroada com um ovo frito, ovo estrelado. O cheiro que tomou conta de tudo era de tempero forte, e o agridoce do feijão tampado por quatro horas. Mais meia hora e azedava tudo. Foi um momento de muita sensibilidade. Maxwell puxou uma colher gigante, capaz de comer meio pote de vez, olhou para mim e perguntou se podia fazer a refeição ali. Respondi que sim e saí para chorar.
Mas acho que não consegui chorar.
5:35 PM