terça-feira, março 23, 2004
DILEMA
por João do Papel
Um dilema moral desaguou com tudo em minha vida. Gostaria de ter a leveza de um Aldir Blanc para deixar isso engraçado, mas contenho-me; vou com o que tenho, que é quase nada.
O assunto começa assim: pago em dia, com justiça e na bucha aquilo que devo. Mas, quando estou gastando demais em determinado balcão, contraio dívidas sob a desculpa de ter esquecido a carteira em outra algibeira. Isso mata dois coelhos com uma carteirada: me alivia dos gastos daquele momento e cria uma barreira natural para impedir que eu gaste mais naquele lugar.
Mas esse mês eu exagerei. Fiz a "coisa" em dois estabelecimentos; sendo que um é defronte o outro. Agora tenho um problema de almanaque -- como transportar uma galinha, um cachorro e um sapo para o outro lado do rio se você tem apenas um bote e o cachorro não suporta a galinha, o sapo por sua vez se irrita com o cachorro etc? A regra do meu problema é a seguinte: não consigo passar na frente de um lugar onde estou devendo; e também não posso passar no meio da rua, porque tem carros. Como fazer? Escolho o restaurante, onde sou malquisto por dez reais; ou o sebo de livros, onde dei um tombo mais singelo, de seis? Digo, qual dos dois escolho para quitar a dívida?
O lugar onde devo menos, não é mesmo? Não, porque preciso comer no restaurante, que tem uma salada waldorf supimpa e muito azeite aromático. Mas, e as novidades que chegam ao sebo? É uma atividade caótica, tornar-se cliente de sebos. Porque nunca tem o que você quer, e quando chega, é arriscado perder porque deixou de ir ontem. Um dia faz toda a diferença.
Estou cada vez mais longe da resposta. Porém, há uma coisa suprema que posso fazer, sim. Simples, até. Digna e simples. Vou me esforçar um pouco -- mas é assim que se fazem homens maduros. Vou procurar outra rua para passar.
por João do Papel
Um dilema moral desaguou com tudo em minha vida. Gostaria de ter a leveza de um Aldir Blanc para deixar isso engraçado, mas contenho-me; vou com o que tenho, que é quase nada.
O assunto começa assim: pago em dia, com justiça e na bucha aquilo que devo. Mas, quando estou gastando demais em determinado balcão, contraio dívidas sob a desculpa de ter esquecido a carteira em outra algibeira. Isso mata dois coelhos com uma carteirada: me alivia dos gastos daquele momento e cria uma barreira natural para impedir que eu gaste mais naquele lugar.
Mas esse mês eu exagerei. Fiz a "coisa" em dois estabelecimentos; sendo que um é defronte o outro. Agora tenho um problema de almanaque -- como transportar uma galinha, um cachorro e um sapo para o outro lado do rio se você tem apenas um bote e o cachorro não suporta a galinha, o sapo por sua vez se irrita com o cachorro etc? A regra do meu problema é a seguinte: não consigo passar na frente de um lugar onde estou devendo; e também não posso passar no meio da rua, porque tem carros. Como fazer? Escolho o restaurante, onde sou malquisto por dez reais; ou o sebo de livros, onde dei um tombo mais singelo, de seis? Digo, qual dos dois escolho para quitar a dívida?
O lugar onde devo menos, não é mesmo? Não, porque preciso comer no restaurante, que tem uma salada waldorf supimpa e muito azeite aromático. Mas, e as novidades que chegam ao sebo? É uma atividade caótica, tornar-se cliente de sebos. Porque nunca tem o que você quer, e quando chega, é arriscado perder porque deixou de ir ontem. Um dia faz toda a diferença.
Estou cada vez mais longe da resposta. Porém, há uma coisa suprema que posso fazer, sim. Simples, até. Digna e simples. Vou me esforçar um pouco -- mas é assim que se fazem homens maduros. Vou procurar outra rua para passar.
7:36 PM