quarta-feira, março 31, 2004

CATARINA
por Adalberto Silva

Fui nocauteado por uma tremenda gripe. Caí em febre, fiquei prostrado na cama, com a boca seca, o corpo tomado de dores, os olhos vermelhos e lacrimejantes.

De tão forte, apelidei a moléstia de Catarina, em homenagem ao furacão que visitou o litoral sul do País. Se não me engano, essa é a primeira catarina a me ter assim, intimamente, tomar as minhas vias respiratórias, ir para a cama comigo e causar-me suores noturnos.

Por causa dela simplifiquei drasticamente o meu espectro de pensamentos. Não tinha cabeça para pensar na falta de emprego e de dinheiro, nem para ler ou produzir um texto. Só pensava em ficar bom, voltar a respirar normalmente, sentir o gosto dos alimentos, dormir tarde e sem camisa, sair na rua. Mas não reclamava da moléstia. É coisa da natureza, inevitável, pensei, confiante nos meus anticorpos.

Sinto que a Catarina está indo embora. Não deixará saudades. Esperto que sou, vou contribuir ao máximo para que ela vá e não volte logo. Vou tomar antitérmico, analgésico, chá de alho e limão, leite quente com chocolate. E dormirei cedo e com camisa, louco para voltar às minhas preocupações mesquinhas.


8:31 PM
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