sábado, março 27, 2004
AO VENCEDOR, OS TOMATES
por Adalberto Silva
Dias atrás comprei um exemplar atrasado da revista “Radar Interativo”. O número de estréia, para ser mais preciso. Paguei R$1,99 ao meu amigo jornaleiro, com quem sempre vou bater papo depois do almoço e aproveito para filar os jornais do dia.
Logo nas primeiras páginas encontrei uma matéria capenga sobre Michael Moore, um exemplo perfeito de jornalismo-marmitex, aquele praticado no intervalo das refeições, ou entre um frila e outro. Mas não escrevo para criticar a revista, faço isso outra hora. Escrevo, sim, para chutar o traseiro do cineasta e escritor queridinho da esquerda bem nutrida.
Não vou criticá-lo com argumentos racionais, que me tomariam tempo e fosfato. Prefiro economizar palavras e dizer, apenas, EU ODEIO MICHAEL MOORE.
Gostaria de desafiá-lo em uma luta de boxe sem luvas, a despeito do americano pesar mais que eu. É claro que ele não iria aceitar o desafio de um mero desconhecido latino-americano. Se eu fosse um anônimo rico e texano, herdeiro de petrodólares, representante legítimo dos w.a.s.p, aposto que ele encararia. Ou, no mínimo, alardearia o bafafá. Michael Moore é do tipo que escolhe os inimigos.
Mesmo assim eu sonho em socar aquela cara gorducha, arremessar aqueles óculos longe do ringue, nocautear o queridinho da américa esclarecida e depois ser bombardeado por tomates não transgênicos vindos da platéia.
Um desses tomates seria presente da Raphaela*, estudante de Jornalismo de uma conhecida instituição particular de Vitória. Ela parece ter lido um hipotético manual de “como ser legal e parecer uma pessoa alternativa”: tem os cabelos curtinhos, usa badulaques hippies, tem estrelinhas tatuadas pelo corpo, curte sons que ninguém conhece, dirige vídeos e culpa o neoliberalismo por todas as desgraças do país.
Conversávamos sobre “Tiros em Columbine” numa mesa de bar com mais cinco pessoas, quando ela, empolgada, pergunta a opinião do único graduado presente. Respondi que saí do cinema com vontade de fundar a Sociedade Brasileira do Rifle, embora não tenha arma em casa.
A menina fechou a cara e não falou mais comigo. Um silêncio nauseabundo baixou no recinto. Depois de breve desconforto, paguei minha conta no boteco e fui embora, certo de que tinha feito um gol.
*o nome foi trocado para preservar a identidade da moça.
por Adalberto Silva
Dias atrás comprei um exemplar atrasado da revista “Radar Interativo”. O número de estréia, para ser mais preciso. Paguei R$1,99 ao meu amigo jornaleiro, com quem sempre vou bater papo depois do almoço e aproveito para filar os jornais do dia.
Logo nas primeiras páginas encontrei uma matéria capenga sobre Michael Moore, um exemplo perfeito de jornalismo-marmitex, aquele praticado no intervalo das refeições, ou entre um frila e outro. Mas não escrevo para criticar a revista, faço isso outra hora. Escrevo, sim, para chutar o traseiro do cineasta e escritor queridinho da esquerda bem nutrida.
Não vou criticá-lo com argumentos racionais, que me tomariam tempo e fosfato. Prefiro economizar palavras e dizer, apenas, EU ODEIO MICHAEL MOORE.
Gostaria de desafiá-lo em uma luta de boxe sem luvas, a despeito do americano pesar mais que eu. É claro que ele não iria aceitar o desafio de um mero desconhecido latino-americano. Se eu fosse um anônimo rico e texano, herdeiro de petrodólares, representante legítimo dos w.a.s.p, aposto que ele encararia. Ou, no mínimo, alardearia o bafafá. Michael Moore é do tipo que escolhe os inimigos.
Mesmo assim eu sonho em socar aquela cara gorducha, arremessar aqueles óculos longe do ringue, nocautear o queridinho da américa esclarecida e depois ser bombardeado por tomates não transgênicos vindos da platéia.
Um desses tomates seria presente da Raphaela*, estudante de Jornalismo de uma conhecida instituição particular de Vitória. Ela parece ter lido um hipotético manual de “como ser legal e parecer uma pessoa alternativa”: tem os cabelos curtinhos, usa badulaques hippies, tem estrelinhas tatuadas pelo corpo, curte sons que ninguém conhece, dirige vídeos e culpa o neoliberalismo por todas as desgraças do país.
Conversávamos sobre “Tiros em Columbine” numa mesa de bar com mais cinco pessoas, quando ela, empolgada, pergunta a opinião do único graduado presente. Respondi que saí do cinema com vontade de fundar a Sociedade Brasileira do Rifle, embora não tenha arma em casa.
A menina fechou a cara e não falou mais comigo. Um silêncio nauseabundo baixou no recinto. Depois de breve desconforto, paguei minha conta no boteco e fui embora, certo de que tinha feito um gol.
*o nome foi trocado para preservar a identidade da moça.
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